By 14 de agosto de 2025
FOTO: Central de Inseminação Artificial inaugurada por meio de convênio entre o Sindicato Rural e o Ministério da Agricultura na gestão de Geraldo Migliorini

 

MEMÓRIA
Geraldo Migliorini e a aposentadoria do trabalhador rural

Entre os muitos capítulos marcantes da história do Sindicato Rural de Uberlândia, um merece ser resgatado e compartilhado com orgulho entre os associados: o episódio em que o então presidente da entidade, Geraldo Migliorini, contribuiu diretamente para a criação da aposentadoria do trabalhador rural no Brasil.

O ano era 1969. Migliorini presidia o Sindicato Rural de Uberlândia (na época ainda chamado Associação Rural) e se preparava para inaugurar a Central de Inseminação Artificial — um projeto pioneiro localizado na esquina da avenida Fernando Vilela com a rua Engenheiro Azelli. Para a ocasião, convidou o recém-empossado ministro da Agricultura, Luiz Fernando Cirne Lima, que prontamente aceitou o convite, mesmo com menos de quinze dias no cargo.

Durante a visita, o ministro conheceu de perto o potencial agroindustrial da cidade, visitando empresas como o Frigorífico Caiapó, e foi recebido com um banquete no Clube Cajubá. Mas foi na intimidade da sala de estar da casa de Migliorini, à Praça Coronel Carneiro, que surgiu uma ideia que mudaria a vida de milhares de trabalhadores do campo em todo o país.

Num bate-papo informal, Geraldo Migliorini chamou a atenção do ministro para uma questão social urgente e negligenciada: o futuro dos trabalhadores rurais após a velhice. Migliorini relatou uma realidade triste e comum — a do trabalhador que dedicava décadas à lida no campo, mas que, ao envelhecer, era deixado à própria sorte, muitas vezes terminando a vida em situação de abandono ou pedindo esmolas nas ruas.

Com clareza e objetividade, Migliorini sugeriu uma solução viável e simples: o aumento da alíquota do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) de 1% para 2%. O acréscimo, argumentou ele, seria quase imperceptível para os produtores, mas suficiente para viabilizar uma aposentadoria para o trabalhador do campo. “Hoje, compramos um quilo de arroz por cinco cruzeiros. Isso representa cinco centavos de Funrural. Passando para dois por cento, o imposto será de dez centavos. Ninguém sente isso”, explicou Migliorini ao ministro.

Sensibilizado, Cirne Lima levou a proposta a Brasília. Poucos dias depois, escreveu a Migliorini confirmando a criação da aposentadoria rural no valor de meio salário mínimo, com o compromisso de seguir lutando para que fosse ampliada para um salário integral — o que viria a se concretizar anos depois.

O gesto visionário e humano de Geraldo Migliorini representou um marco para os trabalhadores rurais do Brasil. Foi a partir daquela conversa, nascida da vivência de quem conhecia de perto a realidade do campo, que se deu o primeiro passo rumo à inclusão previdenciária do homem e da mulher do campo.

Mais do que um presidente de entidade, Migliorini foi um líder com olhar social, cuja atuação no Sindicato Rural de Uberlândia (1965 a 1970) permanece como um legado de dignidade e justiça.

Que esta memória inspire novas gerações de produtores, dirigentes e trabalhadores a valorizar o diálogo, a sensibilidade e a ação em favor de um campo mais humano e justo para todos.

Com informações de Antônio Pereira da Silva
e Geraldo Migliorini